quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Primavera


A Primavera não pode conter o frio que o inverno trás. Eles podem associar-se, contribuírem um com o outro, mas a chuva vai continuar caindo por cima das flores, umedecendo a grama, dando orvalho à árvore, permanecendo vivas as trepadeiras, o ser humano, o seu amor. Mas a chuva não pode ser extraviada, não pode ser monopolizada. A água que cai das nuvens cinzas águam todas a pétalas da mesma forma, e não gosta de ser contida nem cobrada. Às terras descascadas ela trás fertilidade, ao mendigo na calçada ela trás desespero, para a formiga perdida no jardim ela leva a morte, mas para você, minha Primavera, ela vai levar o motivo de existir. Ela pode ajudar-lhe a plantar e a colher. Pode fazer com que escorra todas as plantas murchas pelo ralo e que, junto com elas, vão as tristezas e incertezas. Coloque sua cuia em baixo dela e tenha água limpa para enxugar o fel que escorre pelo peito. Respeite o ritmo dos pingos e não sofrerá possíveis deslizes ou afogamentos. Eu não aprendi essa parte, e afoguei-me.

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